El giro multicultural en América Latina implicó el ajuste de las operaciones estadísticas para captar la diversidad étnica y cultural de los países de la región, así como la ampliación de los mecanismos de participación de los grupos étnicos en el diseño y puesta en marcha de dichas operaciones. Sin embargo, estos procesos no han estado libres de tensiones, tal y como lo evidencia la controversia surgida entre los funcionarios oficiales a cargo de la producción de estadísticas en Colombia y las comunidades afrodescendientes, a raíz del descenso demográfico de estas poblaciones registrado en el censo de 2018. En este artículo, discutiremos la manera en que las burocracias estatales hacen uso de las tecnologías numéricas para establecer ciertas representaciones de la realidad, con el propósito de alinear las posiciones encontradas de los activistas a su favor. A partir de la reconstrucción de los argumentos desplegados por unos y otros para explicar este descenso, veremos las distintas formas en que los actores involucrados evalúan las implicaciones de este hecho de acuerdo con las posiciones diferenciadas que ocupan en el espacio social, así como el papel específico que juegan las inscripciones numéricas como recurso argumentativo en estos debates. Para ello, nos hemos apoyado en la realización de entrevistas a líderes y académicos afrodescendientes que han participado en este debate, así como en la revisión de documentos publicados tanto por las instituciones como por las organizaciones étnicas. Encontramos que mientras los funcionarios oficiales, apoyados en distintas tecnologías numéricas, se esfuerzan por sostener la discusión en el plano técnico, los activistas evalúan las causas e implicaciones de los resultados censales en términos políticos, como una expresión más del racismo estructural y de la exclusión a los que han estado sometidos los pueblos afrodescendientes. Además de este efecto de “tecnificación de la política”, las inscripciones numéricas hacen posible el ejercicio de gobierno mediante el cual la institución a cargo de la producción de estadísticas en el país, se arroga la potestad de “certificar” a la población.
The multicultural turn in Latin America implied the adjustment of statistical operations to capture the ethnic and cultural diversity of the countries in the region, as well as the expansion of mechanisms for the participation of ethnic groups in the design and implementation of such operations. However, these processes have not been free of tensions, as evidenced by the controversy that arose between officials in charge of the production of statistics in Colombia and Afro-descendant communities, as a result of the demographic decline of these populations recorded in the 2018 census. In this article, we will discuss the way in which state bureaucracies make use of numerical technologies to establish certain representations of reality, with the purpose of aligning the conflicting positions of activists in their favor. From the reconstruction of the arguments deployed by one or the other to explain this decline, we will see the different ways in which the actors involved evaluate the implications of this fact according to the differentiated positions they occupy in the social space, as well as the specific role played by numerical inscriptions as an argumentative resource in these debates. To this end, we have relied on interviews with Afro-descendant leaders and academics who have participated in this debate, as well as on the review of documents published by both institutions and ethnic organizations. We found that while officials, supported by different numerical technologies, strive to keep the discussion on a technical level, activists evaluate the causes and implications of the census results in political terms, as one more expression of the structural racism and exclusion to which Afro-descendant peoples have been subjected. In addition to this effect of "technification of politics", the numerical inscriptions make possible the exercise of government through which the institution in charge of the production of statistics in the country arrogates to itself the power to "certify" the population.
A viragem multicultural na América Latina implicou o ajustamento das operações estatísticas para capturar a diversidade étnica e cultural dos países da região, bem como a expansão de mecanismos para a participação de grupos étnicos na concepção e implementação destas operações. No entanto, estes processos não foram isentos de tensões, como evidenciado pela controvérsia que surgiu entre os funcionários oficiais responsáveis pela produção de estatísticas na Colômbia e as comunidades afrodescendentes, como resultado do declínio demográfico destas populações registado no censo de 2018. Neste artigo, discutiremos a forma como as burocracias estatais fazem uso de tecnologias numéricas para estabelecer certas representações da realidade, com o objectivo de alinhar as posições conflituosas dos activistas a seu favor. Reconstruindo os argumentos apresentados para explicar este declínio, analisaremos as diferentes formas pelas quais os actores envolvidos avaliam as implicações deste facto de acordo com as posições diferenciadas que ocupam no espaço social, bem como o papel específico desempenhado pelas inscrições numéricas como um recurso argumentativo nestes debates. Para tal, contamos com entrevistas com líderes afrodescendentes e académicos que participaram neste debate, bem como com a revisão de documentos publicados tanto por instituições como por organizações étnicas. Verificámos que enquanto os funcionários oficiais, apoiados por diferentes tecnologias numéricas, se esforçam por manter a discussão a nível técnico, os activistas avaliam as causas e implicações dos resultados do censo em termos políticos, como mais uma expressão do racismo estrutural e da exclusão a que os povos afrodescendentes têm sido sujeitos. Para além deste efeito de "tecnificação da política", as inscrições numéricas tornam possível o exercício do governo através do qual a instituição encarregada de produzir estatísticas no país arrogou a si própria o poder de "certificar" a população.