Colombia
A partir de un estudio de caso realizado con las actas de las sesiones de un comité de ética en investigación (cei) de una universidad colombiana, en este artículo se analiza la incidencia de la conformación multidisciplinar de este organismo en el proceso de revisión ética de la investigación. Los cei son tratados como organizaciones de frontera en los que concurren expertos con diversas ascendencias disciplinares, y como espacios socio-epistémicos en los que se negocia y produce la ética de la investigación en la actualidad. Durante la observación realizada, se encontró que algunos integrantes del organismo percibieron la pluralidad de expertos como una anomalía que dificultaba el trabajo cotidiano del cuerpo colegiado y debía, en lo posible, evitarse. El cei buscó la homogeneización disciplinar en el proceso de toma de decisiones con el objetivo de hacerlo operativo y para tratar de evadir la concurrencia de comunidades de prácticas, o basó su revisión en la valoración ética que el propio investigador y los pares académicos de prestigio hicieron de los proyectos. De acuerdo con lo anterior, en este artículo, se plantea que esta dinámica es, en gran medida, consecuencia del problema de las metaexperticias o la habilidad y legitimidad con la que miembros externos, como eventualmente lo son algunos miembros del cei, emiten juicios acerca de la corrección técnica o ética de saberes expertos que no dominan. Se concluye que, en la práctica local de supervisión, el investigador goza de un radio de acción amplio para interpretar y definir la dimensión ética en su trabajo, puesto que es un actor interaccional que debe estar en capacidad de desarrollar su criterio ético y de comunicarlo al cei. Paradójicamente, pese a que surge como escenario público para el diálogo multidisciplinar, el cei termina siendo un espacio en el que se reafirma el esoterismo profesional de las comunidades disciplinares y donde se refuerza la autoridad socioepistémica de los expertos.
Based on a case study drawn from the written records of a Colombian Research Ethics Committee (rec), this article discusses the impact that its multidisciplinary nature has on its decision-making processes. recs are analyzed as “boundary organizations” in which experts from different disciplines can meet. Additionally, recs are viewed as contemporary socio-epistemic arenas in which research ethics are produced. It was found that multiple expertise is often seen by some of its members as an «anomaly» which impedes ordinary work and ideally should be avoided. During the assessment of research projects the rec sought to manage this task through homogenizing decision-making processes in accordance with the expertise of some of its members, avoiding the convergence of «communities of practice.» Furthermore, the members of the rec frequently base their decisions either on their own ethical judgments, or by mirroring those of more qualified reviewers. This dynamic is largely a consequence of «meta-expertise,» that is to say, rec members’ ability or legitimacy to judge expert knowledge which they do not possess. It is concluded that researchers have wide possibilities to interpret and define the ethical dimension of their work. Within local practices of ethical reviews, researchers act as «interactional» actors able to assess and communicate recs about their own ethics. Paradoxically, despite their character as a public setting for multidisciplinary dialogue, recs end up being spaces in which the professional esotericism of disciplinary communities is reaffirmed and the socio-epistemic authority of experts reinforced.
A partir de um estudo de caso realizado com as atas das sessões de um comitê de ética em pesquisa (cep) de uma universidade colombiana, neste artigo, analisam-se a incidência da conformação multidisciplinar desse organismo no processo de revisão ética da pesquisa. Os cep são tratados como organizações de fronteira, nas quais disputam especialistas com diversas ascendências disciplinares, e como espaços socioepistêmicos nos quais se negocia e se produz a ética da pesquisa na atualidade. Durante a observação realizada, constatou-se que alguns integrantes do organismo perceberam a pluralidade de especialistas como uma anomalia que dificultava o trabalho cotidiano do corpo colegiado e devia, no possível, ser evitada. Para fazer operativo o processo de tomada de decisões, durante a revisão de projetos de pesquisa, o cep procurou homogeneizar de acordo com critérios de experiência para tentar evadir a concorrência de comunidades de práticas, ou baseou sua revisão na avaliação ética que o próprio pesquisador e os pares acadêmicos de prestígio fizeram dos projetos.
Nesse sentido, neste artigo, propõe-se que essa dinâmica é, em grande medida, consequência do problema das metaexperiências ou da habilidade e da legitimidade com a qual membros externos, como eventualmente são alguns membros do cep, emitem julgamentos sobre a correção técnica ou ética de saberes especializados que não dominam. Conclui-se que, na prática local de supervisão, o pesquisador desfruta de um raio de ação amplo para interpretar e definir a dimensão ética em seu trabalho visto que é um ator interacional que deve ser capaz de desenvolver seu critério ético e de comunicá-lo ao cep. Paradoxalmente, ainda que surja como cenário público para o diálogo multidisciplinar, o cep acaba sendo um espaço no qual se reafirma o esoterismo profissional das comunidades disciplinares e onde se reforça a autoridade socioepistêmica dos especialistas.