Tania Pérez Bustos
En este artículo busco comprender y problematizar la metáfora del conocimiento como tejido, puesto que es una entrada para entender críticamente las mediaciones, desigualdades y diferencias en la producción del conocimiento tecnocientífico y en sus encuentros y diálogos con otros conocimientos. El punto de partida del análisis es el componente etnográfico de un proyecto interdisciplinario que diseñó una interfaz tangible de usuario. Esta interfaz se inspiró en el calado, un bordado artesanal que se practica en la región de Cartago, Colombia. Si se considera la manera en que se realiza este bordado, se puede entender como una forma de tejido. Los encuentros entre los saberes-haceres de las bordadoras artesanales, conocimientos situados en sus manos, feminizados y precarios, y los conocimientos de la ingeniería, con su experticia codificada y legítima, enredan y desenredan las prácticas. Estas últimas sustentan jerarquías y binarismos epistémicos y de género, que están inmersos en contextos geopolíticos particulares; pero también posibilitan la creatividad, la reparación y la reinvención de estas prácticas, a través de sus temporalidades y concreción diaria. Para desarrollar el argumento, inicio el artículo discutiendo cómo la aproximación propuesta permite deshacer una metáfora clásica en los Estudios Sociales de la Ciencia y la Tecnología (esct): la de los sistemas sociotécnicos como tejidos sin costura. Después, doy cuenta de cómo una cierta aproximación etnográfica al bordado permite develar formas de conocimiento particulares que contribuyen a descolocar al conocimiento tecnocientífico, en particular cuando se encuentra con otras formas de saber. Para elaborar este argumento realizo dos movimientos complementarios. En primer lugar, un zoom-out a la labor del calado, para tener una visión más amplia del trabajo que sustenta la existencia del tejido y de sus condiciones de vulnerabilidad. Luego, hago un zoom-in de esta técnica de bordado, acercándome a su materialidad, para ver las estructuras que la sostienen. Mi intención con estos movimientos es responder las preguntas que surgen de la etnografía, que cuestionan y descolocan al saber tecnocientífico, encarnado, en este caso, en la ingeniería, cuando se encuentra con otros conocimientos.
In this article I seek to understand and problematize the metaphor of knowledge as weaving, as a way to critically understand mediations, inequalities and differences in the production of techno-scientific knowledge, and its encounters and dialogues with other knowledges. The starting point of the analysis derives from the ethnographic component of an interdisciplinary project, oriented towards the design of a tangible user interface inspired by calado, a handmade embroidery done in the region of Cartago, Colombia. Considering the way this embroidery is performed, it can be understood as a form of weaving. The meeting between the knowing-doing of artisan embroiderers, a knowledge situated in their hands, feminized and precarious, and the knowledge of engineering, with its coded and legitimated expertise, simultaneously entangles and disestangles practices that support hierarchies and epistemic and gender binaries, embedded in particular geopolitical contexts. However, they also allow creativity, repair and reinvention of these embodied orders, their temporalities and daily realizations. To develop the argument I start by discussing how the proposed approach dislodges a classic metaphor in the social studies of science: that socio-technical systems are seamless webs. Then I give an account of the ways in which a particular ethnographic approach to embroidery allows us to reveal specific forms of knowledge which question the place that technological and scientific knowledge has, particularly when it encounters other forms of knowledge. To develop this argument I propose two complementary movements. First a “zoom-out” to the work of the embroiderers, providing a broader view of the labor that supports the existence of weaving and its vulnerable conditions. Then a “zoom-in” onto this embroidery technique, approaching its materiality to see from there the structures that also support it. My intention with these movements, is to deploy the questions that emerge from the ethnography to critique the place of techno-scientific knowledge, embodied in this case in engineering, when it encounters other knowledge types.
Neste artigo, busco compreender e problematizar a metáfora do conhecimento como tecido visto que é uma entrada para entender criticamente as mediações, as desigualdades e as diferenças na produção do conhecimento tecnocientífico e em seus encontros e diálogos com outros conhecimentos. O ponto de partida da análise é o componente etnográfico de um projeto interdisciplinar que desenhou uma interface tangível de usuário. Essa interface foi inspirada no calado, bordado artesanal realizado na região de Cartago (Colômbia). Se for considerada a maneira em que se realiza esse bordado, pode-se entender como uma forma de tecido. Os encontros entre os saberes-fazeres das bordadeiras artesãs, conhecimentos situados em suas mãos, feminizados e precários, e os conhecimentos da engenharia, com sua experiência codificada e legítima, enredam e desenredam as práticas. Estas últimas sustentam hierarquias e binarismos epistêmicos e de gênero que estão imersos em contextos geopolíticos particulares; além disso, possibilitam a criatividade, a reparação e a reinvenção dessas práticas por meio de suas temporalidades e concreção diária.
Para desenvolver o argumento, o artigo inicia discutindo como a aproximação proposta permite desfazer uma metáfora clássica nos estudos sociais da ciência: a dos sistemas sociotécnicos como tecidos sem costura. Em seguida, mostra-se como uma certa aproximação etnográfica ao bordado permite revelar formas de conhecimento particulares que contribuem para descolocar o conhecimento tecnocientífico, em especial quando se encontra com outras formas de saber. Para elaborar esse argumento, realizo dois movimentos complementares. Em primeiro lugar, um zoom-out ao trabalho do calado, para ter uma visão mais ampla do trabalho que sustenta a existência do tecido e de suas condições de vulnerabilidade. Em seguida, faço um zoom-in dessa técnica de bordado, aproximando-me a sua materialidade para ver as estruturas que o sustentam. Minha intenção com esse movimento é responder às perguntas que surgem da etnografia, que questionam e descolocam o saber tecnocientífico, incorporado, nesse caso, na engenharia, quando se encontra com outros conhecimentos.