O objectivo deste artigo é analisar o código de comportamento e de emocionalidade que nasce da literatura de auto-ajuda publicada em Portugal a partir dos anos 1950, momento em que este tipo de publicações começa a ganhar presença e visibilidade. Inicialmente, este código parece afastar-se dos preceitos tradicionais defendidos pelo Estado Novo. No entanto, a análise da sua base social � o desenvolvimento económico, a integração do país no circuito capitalista internacional, a constituição da empresa como novo centro de integração social, a presença de novas mentalidades tecnocráticas e a procura, por parte do poder político, de um tipo de legitimidade baseada no desempenho � permite avaliar melhor esse eventual �afastamento� para observar como o regime integrou e assumiu a nova cultura comportamental e emocional da auto-ajuda num complexo produto de autoridade e liberdade. Tomando como referência os teóricos neofoucaltianos da governamentalidade analisa-se, através do exemplo da auto-ajuda, essa combinação de racionalidade política liberal e autoritária que o Estado Novo exibiu nos seus últimos vinte anos.