Ao longo das três últimas décadas, o projecto da epistemologia passou por um processo de crítica e de transformação, marcado, sucessivamente, pela transferência da soberania epistémica para o "social", pela redescoberta da ontologia e pela atenção à normatividade constitutiva e às implicações políticas do conhecimento, chegando mesmo a ser postulado o abandono da epistemologia como projecto filosófico. Em contraponto a esse processo, foi ganhando contornos a proposta de uma outra epistemologia radicada nas experiências do Sul global.
Procura-se neste artigo explorar as possibilidades de criação de um espaço de diálogo entre a crítica ("naturalista", feminista, pós-colonial, epistemográfica, epistópica) da epistemologia como projecto filosófico e a proposta de uma epistemologia do Sul formulada por Boaventura de Sousa Santos, a partir de uma revisitação do pragmatismo filosófico enquanto forma mais radical de crítica da epistemologia convencional.