Na primeira analogia da experiência, o locus classicus da sua teoria da substancialidade, Kant introduz a substância como algo que permanece através do tempo, como para compensar a alteração dos estados de consciência. O conflito de interpretações a propósito desta questão é provocado sobretudo pela questão de saber até que ponto Kant identifica este substrato permanente de todas as manifestações com a matéria no sentido físico do termo. Nesse sentido, o autor do presente artigo desenvolve um argumento em ordem a mostrar que, segundo Kant, apenas os objectos materiais que ocupam espaço podem possuir o estatuto de substância (enquanto fenómeno). Para além disso, no entanto, mostrase também que o critério da permanência temporal não exaure o conceito de substância. Com efeito, o artigo demonstra até que ponto Kant suplementa a noção de permanência mediante a sua compreensão da substância como sujeito de causalidade e de acção. Esta concepção está presente não apenas na sua metafísica da natureza, mas estendese também à nossa própria autocompreensão enquanto seres vivos capazes de agir em liberdade.