Nenhum governo da Nova República havia iniciado em um cenário tão delicado quanto o de Lula. Após vencer a eleição com a menor diferença de votos da história, Lula enfren-tou uma tentativa de golpe menos de uma semana após tomar posse. Contou, então, com a atuação decisiva do Supremo Tribunal Federal (STF) para punir os responsáveis e pacificar a relação com as Armadas. No entanto, o cerco antidemocrático que marcou o início da gestão Lula também incluía a pressão da burguesia, vocalizada pela grande mídia. Em oito meses, o governo conseguiu pacificar a relação com o mercado por meio de resultados econômicos positivos e da habilidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que alcançou consenso na aprovação da reforma tributária. Mesmo diante dessas importantes vitórias, é possível afirmar que o cerco antidemocrático ao governo Lula foi superado? Quais perigos ainda per-sistem no caminho da integração sul-americana em um cenário político desafiador e da cons-trução de hegemonia progressista em um país ainda dividido? Este artigo propõe reflexões iniciais sobre essas questões decisivas para o futuro da democracia no Brasil.