Eliane Souza Pereira, Valéria Viana Sousa
A pesquisa de Pereira (2023) revela que as mulheres encarceradas no Brasil enfrentam condições precárias e invisibilidade social, fatores que, gradualmente, resultam em despersonalização, perda de identidade e desumanização. Nesse contexto de violência e exclusão, a linguagem surge como forma de resistência e preservação da identidade. Diante disso, este estudo, realizado no Conjunto Penal Advogado Nilton Gonçalves, em Vitória da Conquista, Bahia, buscou investigar o uso de gírias entre essas mulheres, a fim de compreender como tais variações linguísticas refletem suas identidades e condições sociais. A pesquisa foi qualitativa, baseada em entrevistas sociolinguísticas e observação participante, fundamentada nas teorias de variação de Labov (2008), de Eckert (2012) e de Goffman (1986). Assim, no estudo, foram observadas que as gírias desempenham um papel essencial na comunicação da comunidade de prática. Os resultados demonstraram que as gírias de grupo (Preti, 1984; Pereira, 2023) são ferramentas de resistência que ajudam na sobrevivência emocional e social, funcionando como um mecanismo de proteção contra a desumanização do sistema prisional e instrumentos de organização social interna. Por último, o estudo destaca a relevância da análise sociolinguística para entender a linguagem como resistência e preservação da identidade em contextos adversos, ampliando a compreensão das dinâmicas linguísticas no cárcere.