Gil Gonçalves
A mais recente obra de José Pedro Zúquete rastreia a história do populismo em Portugal, enquadrando-a através dos debates acerca das características dos fenómenos populistas na Europa e no mundo.
Esse exercício é pertinente por duas razões. Em primeiro lugar, porque o desfasamento da realidade política nacional ante a nova “vaga” populista global levou a que se produzissem análises precipitadas – tanto no debate público como na academia (Salgado e Silva, 2018) –, que apresentam Portugal como um país onde o populismo está, tendencialmente, ausente. A leitura desta obra permite desmontar essa interpretação. Em segundo lugar, porque Zúquete introduz no debate historiográfico nacional um tema frequentemente descartado, ou por ser demasiado “quente”, ou por estar assente num conceito refém de usos “metafísicos” (Honório, 2018). Pelo contrário, o autor argumenta que o conceito não só tem valor analítico (“quando hoje se lê ou ouve que o populismo é vago e indefinível, isso é mais força do hábito do que necessariamente reflexo da realidade”, p.23), como nos permite olhar para o século xx português perturbando leituas instaladas sobre diferentes conjunturas. A ideia é fazer da “hipótese populista (…) uma das chaves interpretativas da nossa história contemporânea” (p.99).