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Fábio Perin Shecaira
Os amigos da literatura costumam dizer que ela é capaz de tornar as pessoas mais compreensivas e benevolentes. Os inimigos da literatura, por outro lado, costumam dizer que ela é capaz de corromper os leitores. Cada um do seu modo, os dois grupos exageram o poder da literatura. O exagero tem consequências importantes para a discussão sobre o papel da literatura no currículo das faculdades de direito e para o debate sobre os limites da liberdade de expressão literária. Este artigo discute uma das obras literárias mais frequentemente usadas para exemplificar os efeitos nocivos da literatura: Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe. Diz um lugar-comum entre estudiosos da literatura que a publicação da obra teria provocado uma onda de suicídios na Europa do século XVIII. Este artigo questiona o lugar-comum sobre o livro de Goethe, ressaltando a fragilidade dos seus fundamentos e a gravidade das suas implicações.
Friends of literature often claim that it is capable of making readers more tolerant and benevolent. Enemies of literature, on the other hand, claim that it is capable of corrupting readers. Both groups exaggerate the power of literature. The exaggeration has important consequences for the debate about the role of literature in the curriculum of law schools and also for the debate about the limits of literary expression. This paper discusses one literary work frequently used to exemplify the negative effects of literature: Goethe’s The sorrows of young Werther. It is a commonplace among literary scholars that the publication of the book caused numerous suicides in eighteenth-century Europe. This paper raises doubts about that commonplace by emphasizing the lack of evidence to support it as well as the gravity of its political implications.
