Carmen Machado
Este artigo foi escrito a partir de uma proposta investigativa feita aos integrantes do Grupo de Pesquisa Perspectiva Ecologista de Educação da Universidade de Sorocaba, com o filme Sonhos de Akira Kurosawa como um dispositivo disparador para a elaboração de narrativas com elementos autobiográficos e auto-ficcionais sobre os aspectos culturais, ambientais e da vida cotidiana de cada um de nós, participantes do grupo de pesquisa. Pautada na proposta de fragmentos e episódios apresentada por Kurosawa em Sonhos escolhi a escrita como possibilidade de criação e percepção, assumindo a identidade de professora/artista como pensadora de arte/vida numa cidade do interior de São Paulo. Ao unir episódios das práticas pedagógicas e artísticas, narro os pequenos acontecimentos do cotidiano relacionados com os temas presentes em Sonhos, como forma de reflexão da minha própria trajetória e do contexto cultural, político, ambiental e social em que vivo.
Ao mesmo tempo em que o filme de Kurosawa orienta a minha escrita, ele também me (des) orienta, as fronteiras geográficas, culturais e subjetivas e dicotomias entre local/global, arte/educação, vida cotidiana/história, oriente/ocidente, individuo/coletivo, texto/imagem, etc. A (des) orientação se evidencia no processo narrativo tendo como foco, não mais o que o filme mostra e aborda, mas sim o impacto e as conexões que estabelece com a vida de cada um situado em um “não lugar” específico em diferentes épocas.