Nos estudos sobre a Áustria, persiste o debate sobre a aplicabilidade da teoria pós‑colonial à monarquia habsbúrgica. Este texto pretende contribuir para esse debate, analisando estruturas discursivas comuns aos impérios continentais de raiz medieval e aos impérios coloniais modernos e avaliando criticamente algumas especificidades. Para tal, analiso a utopia de um "Imperialismo do Espírito" presente na obra ensaística de dois escritores centrais do modernismo vienense, Hugo von Hofmannsthal e Robert Müller, demonstrando a construção discursiva de um imperialismo e um nacionalismo singulares, assente na cultura e nas artes. Para além disso, a partir dos romances maiores de Robert Müller e de Robert Musil, demonstro como o imperialismo funciona como fulcro da complexa relação da literatura modernista com o paradigma moderno, sendo, ao mesmo tempo, alvo de crítica e de reescrita, no âmbito da resolução das múltiplas crises da modernidade, em particular a do sujeito.