Ana Luísa Saraiva
O texto discute o sentido polémico do "regresso" a África que Richard Wright inscreve em Black Power e a forma como a narrativa da viagem subverte a "Middle Passage". O sujeito narrativo orienta o leitor através de uma incursao pessoal nos muitos sentidos da modernidade e desdobra a noçao de "destino comun", já apontada em 12 Million Black Voices. Contudo, qualquer sentido de comunidade é aqui necessariamente ambíguo, por estar sempre relacionado com questoes de raça e identidade. Black Power é uma narrativa importante para o conceito de modernidade e assinala uma mudança significativa na produçao literária de Wright para uma vertente nao-ficcional. Esta segunda fase da sua obra contém, no entanto, um paradoxo crucial: enquanto se volta para o exterior, para o mundo mais global, Wright tenta, simultaneamente, inscrever-se como referência sobre o locus do qual nunca poderia demarcar-se: África. Em Black Power, a duboisiana "color line" desdobra-se em múltiplas dimensoes.